terça-feira, 24 de julho de 2012

Ligação essencial

Uma ligação maternal.  A ligação essencial para a minha vida!

Entre contradições, brigas, carinhos, tapas, sussurros e berros, o que predomina é o amor. Estou falando da minha mãe. Nós sabemos que o amor sempre vence, né mãe?

Eu quero fazer isso, dali dois minuto quero outra coisa, em um quarto de idéia já nada mais quero.

Mas minha mãe, no fim dos segundos, sempre lembra que sou assim, mas sempre confia que não é por mal.

Ao telefone eu disse "Ahhhh, mãe, desiste! Não vou conseguir juntar dinheiro, é só eu ganhar um pouco a mais que saio distribuindo pra quem precisa!" e ela respondeu "É, Rafaela, agora que eu tô começando a entender!". Linda! Mesmo depois de me aguentar 20 anos, ela ainda se preocupa em entender.

Minha mãe é sagrada! É uma eterna professora, até as coisas ruins, aliás, talvez foram essas as que mais me ensinaram.

Lembro de um dia que estávamos de mudança e com o carro cheio de coisas e minha mãe parou o carro, se não me engano, na Avenida do Estado, sem dizer nada desceu do carro. Eu não entendi direito o que estava acontecendo por que lembro de estar cansada da mudança, mas lembro claramente da minha mãe carregando uma mulher que estava deitada no meio da avenida para a calçada e voltando no carro pra fazer um sanduíche para entregar para a senhora. Então quando partimos em direção a nova casa perguntei alguma coisa pra ela sobre o que eu tinha acontecido e ela deu uma resposta simples "Ela não estava bem filha, estava precisando de ajuda!", não foi nada muito explicativo mas ao mesmo tempo foi o suficiente para me fazer entender tudo, minha mãe ama, eu não precisava perguntar mais nada.

E no telefone eu falei das coisas que eu fiz e deixei de fazer e minha mãe disse "Só você mesmo Rafaela!", mas acho que na maioria das vezes que ela ouve minhas aventuras ela esquece dessas aventuras tão admiráveis que eu presenciei nesse tempo que tive o exemplo de um Rocha.

Lembro da primeira vez que fiz Abraços Grátis, na volta pra casa, toquei a campainha do consultório dela e narrei toda a história, como de costume, a resposta, "Só você mesmo!". E sempre que escuto essa frase eu dou um sorriso e tento imaginar como seria se fosse sem ela, nunca seria só eu mesmo!

Hoje tomei uma decisão que só eu mesma poderia tomar.
Vou estender o meu intercâmbio em mais seis meses.

Estou bem, estou me encontrando cada vez mais e ficando cada vez mais forte.
E o forró? E o Brasil? E meus amigos? Família?

Olha, sinceramente, amo o Brasil e a minha vida ai, mas não posso.
Não posso parar de amar por não estar na minha zona de segurança, ainda não distribui o número de abraços que gostaria de distribuir por aqui, minha marca de tinta ainda não pintou muito do território americano, meus olhos ainda não enxergaram coisas o suficiente para satisfazerem a minha inspiração.

Não tenho país, eu tenho um mundo.
Não tenho casa, sou um lar ambulante.
Não tenho apego, transformei em amor.

As saudades, virou arte.
O choro, virou riso.
O silêncio, virou canção para os meus ouvidos.

Não vu falar que está sendo fácil estar tão longe, mas ninguém disse que seria. Mas confesso, está sendo delicioso estar aqui sentindo todos tão pertinho de mim. Mal sabem vocês, mas são por você, que me lêem, que me interpretam, que me acompanham, que eu sigo. São por vocês que eu sou só eu mesma.

Hoje perguntei se minhas crianças gostariam que eu ficasse mais tempo aqui e a resposta deles não poderia ser mais positiva.
Hoje eu me perguntei como alguém pode olhar o sorriso de uma criança e não sentir-se plenamente feliz automaticamente.
Hoje eu agradeci por poder servir dois pedacinhos de sagrado, um com 6 e outro com 8 anos. Damos risada juntos, vestimos narizes de palhaço juntos, pulamos na cama juntos, comemos juntos. Corto e lixo as unhas deles, faço massagem nas costinhas de dois palmos de comprimento desses seres abençoados, preparo cada comida como se fosse para uma banca de jurados de gastronomia, acordo com carinho na cabeço e dou boa noite com beijo na testa.

Ontem tive uma conversa maravilhosa com a minha mãe por telefone, hoje dei risadas altas com as minhas crianças e amanhã provavelmente continuarei sorrindo por acontecimentos tão abençoados nesses últimos dias.

Escrevo coisas soltas hoje, pois não poderia ser diferente se é assim que me sinto, livre, sem pretensões, cheia de idéias e pensamentos simultâneos sobre amar.

Com mais amor do que com saudades,
sinceramente,

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