sábado, 7 de julho de 2012

Quem roubou nossa coragem?

Joelhos ralados, troféus.
Uma queda inesperada, motivo de risada.
Um roxo no corpo, sinal de policia e ladrão e móvel no meio do caminho.

A gente cresce, os roxos somem, nosso equilíbrio já está mais aguçado e os ralados já não ardem mais. E com essas marcas da infância ficou a coragem de quem já teve uma alma livre de julgamentos.

E o medo de errar assassinou nossa inocência.

É tanta hipocrisia que já não se molha na chuva, já não pula mais no rio, não se dá bom dia, não se ama.

E todas essas formas de privar o sofrimento de nada servem se não mais alimenta-lo.

Ninguém mais consegue ser sincero,ninguém mais consegue sorrir.Ser sincero pode magoar,sorrir pode iludir.

Estamos na era da mentira, uma aqui outra acolá... Magoar, iludir? Mentira não faz isso! Lembra a história de se privar de sofrimento? Foi ai que a mentira teve lugar. Difícil é afirmar se a mentira veio quando o ser humano perdeu a coragem ou se a coragem se perdeu quando o ser humano começou a mentir.

Queria deixar claro que eu minto!E assumo publicamente: EU JÁ PERDI BOA PARTE DA MINHA CORAGEM!

Até pouco tempo atrás me vestia de social, pegava ônibus de segunda a sexta, trabalha como um ser humano comum, pagava aluguel, comia, cagava, bebia, trepava, hora ou outra me permitia rir em público, hora ou outra um eu te amo escapava! Era agonizante estar rodeada de gente, tinha que fazer de conta o tempo todo que eu era mesmo assim: normal.

A parte que me restou de coragem se libertava em casa, quando eu estava sozinha ou com mais uns poucos corajosos: o LP rolava na vitrola, eu pintava o meu colo e carimbava no papel, eu batucava e inventava qualquer letra, cozinhava cantando, eu tinha prazer em organizar as minhas roupas de modo que as cores do meu guarda roupa ficassem em equilíbrio, brincava de quatro com meus gatos. Então, já era novo dia, outro dia de esconder o resto de coragem e ser normal.
Só pra esclarecer, o normal a que me refiro não é o que eu realmente acho normal, o normal a que me refiro pra mim é a falta de coragem. Por exemplo: gente normal tem medo de errar, gente normal normalmente mente!

Sempre sorria internamente quando alguém falava "Rafaela, você é muito sincera!" ou "Mas por que você
falou isso? Tem certas coisas que a gente não divide!". Sorria um sorriso de quem estava feliz com a sua criança, com os seus erros, com a sua sinceridade. Sorria por que no fundo eu sabia, antes ser sincera a não poder ser sincera quando falar "eu te amo", amar engloba sinceridade, respeito, altruísmo lembra? E se a verdade machuca é por que um dos dois perdeu a coragem, ou o que falou usou a sinceridade de má fé ou o que escutou perdeu a coragem de levantar-se depois de cair.

E mesmo enamorada da minha sinceridade, foi o pouco da coragem que me restou quem me ensinou a mentir!

Mas pode respirar tranquilo, não vou mentir pra você, vou ser sincera: eu minto quando digo que está tudo bem, que estou numa boa, que acho o mundo normal, que não estou inquieta!

Enquanto eu ainda não posso cortar meu cabelo em praça pública, viver sem ter que vender meu corpo para as potências financeiras ou dizer eu te amo para um desconhecido sem ser taxada de louca, eu vou continuar dividindo minha coragem, que mesmo pouco ainda é o suficiente, aqui.

Aqui.
Aqui eu não sei mentir!A cada texto é como se eu descobrisse minas de coragem dentro da minha mente, a cada texto eu cutuco um roxo ou tiro uma casquinha.
É pra encontrar coragem que a rocha divide.

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